Joãozito, assim lhe chamavam por diligência da mãe, crescera concomitantemente na sombra da irmã mais velha, Rosita, que por ser mulher detinha todos os requintes e atenções da mãe e com a qual gozava porque nem um ovo sabia estrelar. O pai era militar e por isso, desde tenra idade, o filho foi treinado mentalmente para seguir a mesma carreira. Ávido em resplandecer, para desviar um pouco as atenções da exuberante Rosita, Joãozito ansiava evidenciar-se pela inteligência, pela capacidade de digestão mental, chavão que costumava lançar enquanto se ria e acariciava a calva que teimosamente o admoestava desde a juventude, manias da hereditariedade, dizia-se, já o pai e o avô haviam sofrido da mesma maleita. A debilidade e falta de firmeza a nível familiar caracterizavam a sua personalidade, o que se alastrou para a imposição a nível social. Pouco popular entre as mulheres, sem tempo para se dar ao amor ou aventuras, acabou por casar por procuração, enquanto estava na Madeira, primeiro local onde foi colocado assim que entrou para a Polícia. A nível profissional, surpreendia. Dizia-se ser homem de façanhas inolvidáveis e estonteantes de tão ousadas e intrépidas, dignas dos melhores filmes de Spike Lee. Desfez um cinema nos anos 60, só para caçar um bandido. Joãozito era assim aparentemente calmo e manobrável no meio familiar, muito submisso perante a mãe, mas capaz das maiores proezas a nível profissional. No meio dos maiores desvelos, acetinava as bicadas entre a esposa e a mãe e quando aquela adoeceu, não havia marido mais devoto. Também quando acabou por falecer, não havia no funeral pessoa mais chorosa do que ele. Sozinho no mundo, a viver perto da mãe, também já viúva e sozinha, pois Rosita fora à sua vida, que veio a revelar-se bastante atribulada, como já anteriormente foi referido num texto a ela dedicado. Joãozito tornou-se, nestas circunstâncias, uma presa fácil para ser submetida pelas saias da mãe que agora tomara o leme da vida do filho viúvo. As entradas e saídas sempre recheadas de lamúrias e acusações maternais pela solidão em que uma pobre mãe viúva era deixada…Um dia, Joãozito começou a namorar uma viúva, contínua numa escola secundária, cunhada de um colega dele, também polícia. A mulher apregoava a sua dignidade e honestidade, até porque tinha uma filha e um neto, tinha de dar o exemplo, não podia viver uma vida de amancebamento. Joãozito revelou-se numa situação deplorável, pois a mãe não queria o casamento, nem união, queria o filho viúvo só para ela, queria companhia, serventia, alegando ser uma traição e ingratidão para com a falecida, coitadinha, um segundo casamento. A viuvez é para respeitar e aceitar com honra. Era este o lema de Amélia, assim era o nome da mãe de Joãozito e Rosita. Ele lá tentou um árduo processo de digestão mental, onde se incluía ter de convencer a insaciável viúva que teriam de esperar que a mãe morresse para oficializar a sua união. No meio de toda esta dialéctica, Joãozito era acometido por imprudentes afoitamentos e lascivas bocarras sobre mulherio que estupefaziam os seus interlocutores, pois em vez de casualmente lançadas em conversas de café, vinham à tona em almoços de família…Mas, como tempo é o grande maestro desta orquestra a que todos pertencemos, o coração de Amélia, já com 90 anos, começou a dar de si, até a acometer fatalmente…No dia do velório da mãe, cá fora, Joãozito combinava com o melhor amigo da polícia ir buscar uns frangos de churrasco, porque a barriga dava horas, enquanto a mãe jazia, enquanto Rosita vinha cá fora, depois de ver que os olhares reprovadores não surtiam efeito, com o intuito de expulsar a esposa do melhor amigo do irmão, por sua vez irmã da concubina de Joãozito, acusando-a de “porca”, uma vez que era do domínio público que fidelidade matrimonial era palavra que não constava do vocabulário da senhora…Quem não parecia preocupar-se minimamente era o marido, que trocava durante toda a cerimónia comentários jocosos com Joãozito e os outros compinchas da cerveja e do tremoço.Passados dois meses, fez-se o segundo casamento de Joãozito…
segunda-feira, 16 de março de 2009
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Eu li este livro e adorei, recomendo a todos aqueles que queiram não só a conhecer um pouco deste espetacular escritor,mas como para os amantes da literatura.
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